No mês passado, estive na Universidade de Aalto, em Helsínquia, para participar em atividades relacionadas com o empreendedorismo e a inovação. Esta Universidade é uma referência nestes domínios que começou num movimento liderado por alunos. Em 2008 fundaram a Aalto Entrepreneurship Society (Aaltoes), conseguindo envolver como mentora Tina Seelig, uma conhecida professora de Stanford. Em 2009 iniciaram um programa de aceleração que hoje se chama Startup Sauna e verificaram que os professores de Aalto precisavam de perceber melhor o que se passava no ensino do empreendedorismo em Silicon Valley. Em 2011 conseguiram o feito notável de fazer com que Steve Blank passasse uma semana em Helsínquia. Já escrevi sobre Steve Blank nesta  crónica (“Lean Startup: Uma Nova Dieta para Emagrecer?”, 21-11-2017) e a sua visita produziu uma “lavagem cerebral” aos dirigentes universitários. Os resultados são agora visíveis com a criação anual de 70 a 100 empresas no ecossistema de Aalto, correspondente a cerca de metade das startups universitárias da Finlândia.

Um dos aspetos mais notáveis desta transformação é o de ter origem num elevado número estudantes com capacidade de pensar e agir de forma inovadora. Não vejo esta mentalidade inovadora tão generalizada entre os estudantes universitários em Portugal. Será este um dos resultados da reconhecida qualidade do ensino na Finlândia? Quando avaliamos a qualidade do ensino pensamos essencialmente na transmissão de conhecimentos. Poderão os processos de aprendizagem transmitir conhecimento e, simultaneamente, mudar mentalidades? No ensino da inovação e do empreendedorismo acreditamos que sim.

Antes de prosseguir com a leitura desta crónica proponho que utilize o questionário disponibilizado pela Universidade de Berkeley e obtenha uma medida da sua mentalidade inovadora. Peço-lhe que vá ao site http://berkeleyinnovationindex.org e responda ao primeiro questionário (Individual Survey) dando, no final, um endereço de correio eletrónico para receber o seu relatório de avaliação.

Agora que já respondeu ao questionário posso explicar-lhe a forma como foi concebido sem influenciar os seus resultados. O Berkeley Innovation Index foi criado com base no princípio de que existem comportamentos sociopsicológicos comuns aos empreendedores e inovadores. Desses comportamentos foram selecionados aqueles que poderiam ser testados com questões já validadas em trabalhos anteriores. Essas questões foram depois ensaiadas e selecionadas pela sua eficiência e de forma a reduzir a redundância.

Como terá visto, os seus resultados são apresentados em 7 dimensões. A primeira é a confiança, ou seja, a sua capacidade de confiar nos outros e no seu altruísmo. A resiliência mede a forma com aceita o fracasso e o erro num ciclo de experimentação, análise e adaptação. A diversidade avalia a sua capacidade de se ligar e de ter empatia com estranhos. A robustez mental indica a confiança na sua capacidade de poder mudar o mundo. A colaboração mede a sua abertura ao trabalho em equipa e a sua aceitação em colaborar com os seus competidores. A medida da sensibilidade para os recursos indica a sua capacidade de perceber que o ótimo é inimigo do bom e que o suficientemente bom é perfeito. Finalmente a dimensão da zona de inovação mede a sua capacidade de lidar com a incerteza.

 

A aplicação deste questionário a um curso de empreendedorismo de 4 dias em Berkeley com 100 estudantes mostrou que há um efeito positivo e significativo nos resultados da mentalidade inovadora medidos antes e depois do curso. Outros estudos e outras métricas mostram o efeito positivo de modelos de aprendizagem experiencial onde os alunos aplicam os conhecimentos adquiridos a problemas com dados incompletos, sem soluções únicas e em situações próximas da vida real. Uma das atividades que realizámos em Aalto foi precisamente a “Aalto Entrepreneurial Education Summit” onde envolvemos professores de áreas não ligadas ao empreendedorismo vindos de várias universidades europeias. O objetivo foi o de lhes mostrar que certos modelos de aprendizagem podem ajudar a desenvolver a mentalidade inovadora dos seus alunos. Por exemplo, no caso de cadeiras de projeto em engenharia, há vantagem em que cada grupo desenvolva um projeto diferente, com uma especificação incompleta, com um cliente ou utilizador que não seja o professor e com várias alternativas de solução. Neste modelo, o papel do professor é o de fazer a validação da correta aplicação dos conhecimentos tendo os estudantes a liberdade de validar a solução com o cliente ou com o utilizador. Contamos que intervenções deste tipo ao longo do percurso académico do estudante tenham um impacto significativo na capacidade de inovação dos futuros diplomados. E será que esta crónica alterou a sua mentalidade inovadora? Poderá sabê-lo voltando a responder ao questionário.

 

Adaptado da minha crónica no Jornal i de 7 de janeiro de 2019